
De repente começou a ficar com as folhas amarelas, os ramos quebradiços, os pequenos frutos mirrados, caindo um por um, até que a morte se avizinhe certa. É assim que me sinto, como esta laranjeira.
O caminho tem sido longo e cada vez mais penoso, como se tivesse uma corrente a prender-me uma perna à outra. A cada passo que dou a corrente vai perdendo elos, ficando mais pequena, e os meus passos cada vez mais curtos. Acorrentada, encurralada, prisão de mim mesma.
Costumo ter um sonho, recorrente, em que me encontro na plataforma duma estação de comboios deserta. Quando vejo o comboio a aproximar-se reparo que estou no cais errado e corro. Corro, desço umas escadas para voltar a subir outras e alcançar o cais do lado contrário da estação, mas não chego a tempo. O comboio passou sem o poder apanhar. Depois penso para comigo: 'Talvez me tenha enganado, é melhor ficar neste cais à espera do próximo'. Mas acabo sempre por estar do lado contrário e nunca apanhar o comboio.
A mola interior, energia ou força anímica que todos nós temos, tem vindo a perder força, em movimentos de câmara lenta. Tudo parece desligado, des+ligado, e não tenho conseguido re-ligar-me. A terra ainda parece ser o único Lugar onde timidamente o consigo fazer.
"São as
águas de Março fechando o Verão"