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Hoje foi o dia da Bolota partir, uma cadelinha amorosa.
Não era nossa mas era próxima e fomos hoje enterrá-la, eu e R. Também tem lugar no Trumbuctu, onde a vida e a morte se cruzam. Contar como foi, agora, pouco interessa mas faz-me reflectir sobre a forma como hoje se lida com a morte.
Quando os meus avós morreram, era miúda, lembro-me bem como foi. A imagem deles, no caixão, ainda está presente, e mesmo os momentos (dias) que antecederam a morte. Morreram em casa, junto da família e o velório durou três dias. Estiveram sempre acompanhados. Partiram em alturas diferentes, primeiro o meu avô, depois a minha avó, mas partiram de igual forma. "Acompanhados".
Quando o meu irmão morreu não foi assim e faltou-me esse tempo.
Hoje. Hoje morre-se num dia e é-se enterrado no outro rapidamente, se não no próprio dia, depende da hora da morte. Quase nunca se morre em casa e os corpos são velados em lugares frios e sombrios. Ficam sozinhos durante a noite, porque já ninguém fica acordado a velar os seus mortos. Deixámos de ter esse tempo, o do primeiro luto, da despedida e de deixar o momento da morte fazer parte da vida.
Com o meu avô e com a minha avó foi diferente. Guardo sagradamente essa memória e agradeço, embora fosse pequena, terem-me permitido viver esses dias. Sempre que possível, quando algum Ser morre perto de mim procuro que seja assim.
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