7 de julho de 2008

Ratazana esfomeada

Em criança, mesmo não tendo uma festa com prendas, mimos ou abundâncias desejava sempre a chegada do Natal. Nada disso havia, mas a referencia a esta data, considerada de festa, enchia-me de alegria e expectativa, podia ser que no sapatinho aparecesse um rebuçado ou um pequeno chocolate, ou talvez a tão desejada moeda de cinco tostões.
Muitas vezes se a fase da lua o permitia, matava-se no dia de Natal, o porco, que fornecia o alimento da família para todo o ano. Juntando a matança com o Natal, era mesmo uma grande festa, porque havia muitos convidados, familiares e vizinhos, todos eles alegres, brejeiros e muito conversadores, principalmente ao jantar, quando os afazeres eram menores e o vinho novo já tinha mostrado o efeito de euforia. Não tenho muitas recordações de Natal, porque nada havia para oferecer ou para encantar a fantasia das crianças, mas lembro-me de um Natal em que uma ratazana esfomeada nos roubou uma boa parte da perua, arranjada e postejada, guardada na arrecadação, onde ela (ratazana) trabalhou afincadamente até levar para os seus esconderijos, praticamente todo o nosso suposto manjar.

Chamou-se o Tareco e o Franjinhas, mas nada nem ninguém conseguiu descobrir a espertalhona. Só passados uns dias é que a gulosa farejou nova refeição numa armadilha preparada para ela.
Estava gorda e lustrosa, penso que o Tareco ficou um pouco confuso com aquele petisco – ratazana com sabor a perua?!...
Comeu com gosto e como todos os gatos, depois de comer, limpou os bigodes e foi dormir uma soneca.

uma história por Zilia Jesus
04-01-08

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