1 de janeiro de 2011

a roçadora


Ao Sr. José, homem dos seus oitenta anos, a "sorte" bateu à porta. A reforma é curta, embora trabalhe desde pequenino. Dos dez filhos que teve, só as mulheres não trabalharam com ele e nenhum foi à escola. Primeiro era preciso colocar comida na mesa, depois, anos e anos no corte do eucalipto com muito frio e muita chuva. Um dia, à soleira da porta de sua casa, inesperadamente, recebe a visita de um estranho:

- "Bom dia!", diz o estranho, "O Sr. por acaso não sabe de alguém que queira fazer fazer aí um "trabalhinho"? É coisa pouca. Colocar uns marcos aqui pela herdade."

O Sr. José, encolhendo os ombros, diz:

-"Hum, não sei. Há por aí muita gente nova, não sei. Parece que trabalho não querem, calhando até faço eu."

O estranho, aflito por não conseguir ninguém que quisesse fazer o trabalho logo se apressou a dizer:

-"Então amanhã passo cá para lhe indicar o trabalho a fazer. Ah, já me esquecia! O Sr. tem uma roçadora?"

-"Sim, tenho."

- Ok! Não se esqueça dela amanhã porque vai ser precisa.

E assim foi. No dia seguinte, ao acercar-se do Sr. José o estranho perguntou:
- "Bom dia mestre Zé. Então vamos ao trabalho? Trouxe a roçadora?"

- "Bom dia!", respondeu ele, "Vamos embora!"

Quando olharam para a roçadora que o Sr. José trazia, o estranho e o seu ajudante arregalaram os olhos. Então aquilo é que era a roçadeira?!

A "máquina" afinal era de fabrico artesanal (como a que se vê na imagem e não como estas)
À força de braços e com a tal roçadeira o Sr. José limpou silvado, denso como um matagal, pelos cerros da Fonte Santa, descobrindo os marcos que já existiam ou abrindo caminho para os novos. A sua companheira, de vez em quando, ia com ele. Talvez para lhe dar ânimo e força, que a idade já vai longa.

No outro dia lembrei-me do Sr. José, da sua roçadora, da força e persistência que demonstrou ao limpar os silvados da Fonte Santa. Roçadora já não temos (as boas são caras) e como o vizinho não corta o silvado que galga, implacável, para o lado de cá, agarrei num cabo velho duma ferramenta, no que sempre pensei ser uma foice, há séculos pendurada na casa das ferramentas e fiz uma roçadora como o Sr. José ensinou. Quem não tem cão caça com gato. E assim foi, limpei o silvado do vizinho com força, persistência e uma bela roçadora.

2 comentários :

Alziro Patafisico disse...

Começando bem o ano, assim é que se faz. Que tenhamos todos muito trabalho e muita felicidade de se fazer o que se gosta.

Trumbuctu disse...

Também espero que sim, para todos nós.