10 de agosto de 2011

"O homem que plantava árvores"


(...) Antes de partir, molhou num balde de água o saquinho que continha as bolotas que tão cuidadosamente tinha escolhido e contado. Notei que, em vez de um cajado, o pastor levava na mão um varão de ferro da espessura de um polegar e com metro e meio de altura. (...) O seu destino ficava uns duzentos metros mais acima. Tendo chegado onde queria, começou a espetar o varão de ferro na terra. Fazia um buraco onde punha uma bolota, que depois tapava com terra. Ele estava a plantar carvalhos! Perguntei-lhe se o terreno era dele.  Respondeu-me que não. Se sabia a quem pertencia? Não sabia. Para ele, era terreno comunitário, ou talvez fosse alguém que não se importava com ele. Para ele não era fundamental saber a quem pertencia a terra. Com todo o cuidado, semeou as suas cem bolotas. (...)

Ele levava o seu plano avante, como era evidente pelas faias que me chegavam aos ombros e se estendiam até onde a vista podia alcançar. Os carvalhos estavam robustos e tinham ultrapassado a idade em que estavam à mercê dos roedores. (...)

(...) Foi a mais formidável reacção em cadeia que jamais presenciei. Era preciso recuar até tempos muito antigos para se ver água a correr por estes riachos. (...) O vento também fazia a sua parte, ajudando a espalhar as sementes, pelo que, ao mesmo tempo que reaparecia a água reapareciam os salgueiros, os vimes, os prados, os jardins, as flores e uma certa razão de viver. (...)


in O homem que plantava árvores, de Jean Giono, 2010, Far Far Away Books
pág 13, 20, 21 e 22

baseado no texto original
"L´homme qui plantai des arbres" de Jean Giono, 1980, Editions Gallimard

Uma história que se lê em trinta minutos. Para quem tem filhos, uma história que se lê em três noites. As ilustrações, de Vanessa Capela, são lindas e inspiradoras. Neste livro não são precisas etiquetas - agricultura biológica, permacultura, ecologia - só alma. Adorei!

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